quinta-feira, 27 de junho de 2019

Intimidade - Lembranças da entrega.

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   Era uma quarta e as coisas não andavam bem. No domingo, em um campeonato de lutas, ela foi fazer uma das coisas que mais ama, tirar fotos, ele ficou em casa, estudando. Uma das fotos causou um ciúme danado nele, intuitivo como ninguém, sabia que talvez ela tivesse se permitido depois da separação. 
   Não sabe como, mas, se falaram a noite, aqueles exames ainda estavam pendentes e ela tinha medo de fazê-los e descobrir o resultado. Ele se ofereceu para irem juntos, ela negou e disse que iria sozinha, ele insistiu até a quarta e foram juntos. 
   Chegaram na frente do portão e ficaram conversando, ela estava chateada e ele pediu para que ela entendesse a situação, não estava fácil viver aqueles tempos. Ela disse que achava possível e que tudo que precisava era que ele se entregasse, estivesse disposto a tudo que poderia acontecer e então ele disse sim. 
   Era inegável a afinidade deles, em especial no aspecto corporal. Mas, naquele dia, eles tiveram outra noção da afinidade. Ele ficou lá a tarde toda, levou o computador para estudar e ficaram deitados na cama. Ela perguntava a cada meia hora se ele não tinha acabado e ele dizia que não, mas que estava perto. Depois de findo o estudo eles começaram a conversar e ela contou do casamento que não tinha dado certo, dos trabalhos como professora e de um problema que tivera anos atrás. Ele, muito atencioso, prestava atenção em cada detalhe e desenhava um perfil dela em sua mente, sempre fez isso com todas as pessoas.
   Em determinada hora ela falou de sua vó, da família de maioria feminina e da vida que elas levavam em uma comunidade rural próxima a cidade. Ele sorriu docemente, pois, reconhecia naquela narrativa as suas histórias de infância e sentia um apreço danado pela aquela gente, mesmo sem conhecer. Chegava a hora de ir embora e ele sentia uma vontade imensa de ficar, mas, tinha trabalho a noite, sempre foi responsável com suas tarefas.
   Naquele dia, não se entregaram no aspecto corporal, mas se jogaram em uma intimidade tão profunda, que o corpo dela se entrelaçou ao dele e fez dos dois um só, sentindo a imensa noção de pertencer. Então ela abriu o portão e ele saiu, sem saber ao certo se foi, parece mesmo que a entrega da alma é bem mais profunda que a do corpo e que a intimidade se revela não no desnudar das roupas, mas, no abrir dos corações. 

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