sábado, 10 de agosto de 2019

Pele


   Talvez tenha sido só mais uma noite onde o meu abraço foi o refúgio da sua vontade de dizer ao mundo que alguma coisa está desarranjada. Talvez a possibilidade de conversar sobre assuntos banais e se sentir segura, de alguma forma, tenha te conduzido até aqui, talvez seja esse um momento em que, pelo menos por algumas horas, a vida não parece tão dura como é no correr da semana.
   Nem dá para entender as razões por que esses encontros aconteceram. Pode ser que eu seja um protótipo de cara que você imaginou, mas, que percebeu, muito rapidamente, que não existia. Pode ser a conversa, as piadas sem graça, as semelhanças de uma infância quase rural. Pode ser que você veja em mim uma forma de você, e por raras vezes até me admire. Eu sinceramente não sei o que condiciona esses encontros e tentando uma explicação breve, eu sempre condiciono a pele.
   Não quero dizer que ali só existiu pele, não, longe disso. Quero dizer o quanto é inquestionável a sensação de leveza que meus dedos ganham quando passam na sua pele e são conduzidos quase que mecanicamente aos seus cabelos. Não canso de lembrar o quão macia é e o quanto eu fico admirado com isso. Eu sou admirador nato da beleza e talvez essa seja a razão mais clara da minha constatação.
   Apesar disso eu tenho dificuldade com a partida, não por achar que você deva ficar eu sei dos seus motivos e de toda a sua certeza do desarranjo que a minha personalidade indecisa causa. Eu sei que vou me acostumar a vê-la de longe, seguindo passos e te admirando muito mais do que faço hoje. Conformo-me com a ideia de que sou aquele de passagem, aquele que foi e nunca aquele que fica. Só quero dizer que guardo a sensação da pele e das coisas que não vão com as quais faço lembranças.

Um comentário:

  1. Vê-la de longe é escolha sua e não dela. A escolha do ficar é sua, você tem o direito de ir mas, é opção sua permanecer ou não!

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