"Essa palavra saudade, conheço desde criança. Saudade de amor ausente, não é saudade, é lembrança, saudade só é saudade quando morre a esperança." Poeta Pinto do Monteiro.
Desde que escutei esse mote, reflito sobre a ideia de saudade. Eu nunca achei justo sentir saudade, eu nunca achei correto que ela chegasse, nos tomasse de assalte e depois dissesse pra gente que a culpa é nossa. Sei lá, eu acho que a saudade é um menino traquina, daquele que se satisfaz depois de ver realizada a travessura.
A saudade é um cometa que chega rasgando o céu, sem a gente esperar, e quando passa, abre um clarão de sentimentos, faz o tempo parar, nem que seja na nossa imaginação, revira todas as sensações que a gente guardou bem fundo no peito e quando a gente está abrindo aquele baita sorrisão a danada anuncia que nada daquilo é real e duradouro nos apresentando sem delongas a realidade.
A saudade nos rouba o sentindo, nos prende nas recordações, nos faz querer voltar no tempo e impedir que, agora, a gente esteja sentindo saudade. Ela joga na nossa cara que a vida é curta demais e nos faz pensar em vários "se" mesmo que a gente saiba que não pode mudar nenhum deles. A saudade é mesmo a forma mais cruel da pedagogia da vida.
Talvez o poeta esteja certo, nada do que falei até agora é saudade. Saudade é lembrança e lembrança é a impossibilidade de refazer, de rever, de tentar. A saudade é doce, é tranquila, é serena como o passar dos anos e o amadurecimento do ser. O que a gente sente mesmo e chama de saudade, na verdade, é a vontade de está junto, o desejo de dizer aquela pessoa que não quer olhar o céu e lembrar dela, quer olhar com ela, fazendo todas as juras piegas que assistiu nos filmes da sessão da tarde.
Essa saudade, na verdade, é a vontade de pedir desculpas, de dizer que o coração está aberto e que a distância não diminuiu a alegria dos fins de tarde, do chão do quarto e das teimas sem sentido. Essa saudade é a vontade de voltar, mas, sem consertar nada, apenas seguir e dizer o quanto foi importante se sentir idiota e demorar tanto a perceber a realidade. Não, isso não é saudade. Todo esse aperto no peito, que encontra a gente nos fins de tarde e começos de noite é, na verdade, a constatação que o amor fez alicerce bem firmado no peito e que o vento do inverno não é capaz de derrubar.
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