Ei moça.

   Ei, me diz uma coisa, até quando você vai ficar ai deixando que os momentos especiais passem pela sua vida enquanto você vai erguendo muros entre eles a porta do seu quarto? Muitas são as manhãs que você acorda e passa as pernas pelo lençol ativando como no automático as dúvidas que pairaram a cabeça na noite anterior. Você olhou para o céu ontem e se perguntou se algo de especial aconteceria. Você pediu nas orações da noite anterior que as pessoas que você ama nunca se afastem de você e os abraços mais calorosos possam ser sempre conforto para os dias mais difíceis. Você viu as pessoas que ama chegarem em casa e mesmo tendo pensado em quanto você as ama, ficou calada e se confortou com a constatação interna. Você fez suas obrigações corriqueiras contando as horas para os momentos prazerosos e quando eles chegaram você os fez sem pensar em quanto foi prazeroso. Você olhou as redes sociais e em muitas das fotos você fez prospecção do futuro, sorriu e renovou a fé de que elas também chegarão para você. Você leu as mensagens não respondidas e olhou as fotos que disse que não olharia. Leu o texto daquele blog anônimo que não sabe a razão, mas, continua visitando de forma corriqueira, você até sorriu com muitas dessas coisas e meio sem querer se apropriou de algumas por milésimos de segundos, quando, novamente sem querer, deu de cara com o muro. Ei moça, quando é que você vai abrir uma porta nesse muro? Quando é que você vai construir janelas para que o sol dos sorrisos entrem e o furação que reside ai possa sair? Quando é que você vai arejar esse espaço, organizando o que está bagunçado ai dentro e jogando fora aquilo que só ocupa espaço? A noção de autocuidado do muro é confortante e viver nunca é algo muito seguro, mas, para além do muro existem flores que, mesmo padecendo de um período seco, deixam suas sementes em dormência para nova brotagem. Para além do muro existe uma imensidão de mar que, embora arrebente a praia nas suas ressacas, lava as criaturas com seus sais energizantes. Para além do muro existe o vento que, embora leve areia aos olhos, balança os cabelos em um movimento quase de cafuné. Para além do mar existe a vida, aquela vida que anseia em te abraçar, jogar você pra cima e dizer o quanto você é incrível e fundamental a essa caminhada. Ei moça, eu não quero dizer que o seu muro é uma bobagem, não, ele foi e é fundamental. O que eu quero e preciso dizer nesse instante é que, aqui fora, você faz muita falta.