segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Felicidade – Notas sobre o autor


                  Eu planejei uma porrada de coisas na vida, a maioria estava relacionada a trabalho, família e diversão. Casar depois dos 30, ter um filho de olhinhos puxados e cabelinho de lado e viver a estabilidade de um casamento bem planejado, com namoro e noivado longo. Quase nada deu certo e apesar de tudo eu estou super feliz.
                Como os planos desarranjaram? Eu também não sei, a vida cuidou de me mandar várias situações e pessoas que me ajudaram nisso, e graças ao Pai elas apareceram. A vontade de ser pai continua, mas, hoje eu fico completamente abestalhado quando, nas cenas cotidianas da vida, eu vejo o pai e uma filhinha, geralmente de lacinho na cabeça e vestidinho. O trabalho e todas as realizações materiais já não são prioridades, apenas necessidades. O casamento ainda é uma possibilidade, mas, não me assusta, hoje, a ideia de ser pai solteiro, na verdade é uma real possibilidade.
                Todo mundo que passou na minha vida deixou pedacinhos de dúvidas e certezas. Quebrei um pouco a noção de racionalidade e hoje encaro a vida com mais leveza e simplicidade. Muito do que antes achava interessante, me provoca um profundo desinteresse e não me assusta atualmente a certeza de que no passar da peneira, poucos são os amigos que realmente posso contar.
                Talvez todo esse processo seja a proximidade dos 30 anos, isso sim tem me assustado, achei que demoraria mais, ou melhor, no calor dos 20 anos, isso parecia uma realidade quase inatingível. Descobri que poucas são as necessidades para a satisfação da felicidade e hoje posso desfrutar delas quase sempre. Descobri também que essa coisa chamada felicidade é produto do que construímos e jamais o pote de arco-íris. Nessa de descobrir a felicidade eu também descobri a tristeza e não me causa nenhum medo vivê-la, acho inclusive necessário. Ainda continuo sonhador, acredito no amor e o vivo todos os dias. O fato de gostar de alguém e nem sempre está com ela já não me perturba tanto como fez antes, entrego amor e não espero de volta, desenvolvi a ideia de que amor não é escambo.
                Fiz a construção de muitas certezas, mas, ainda sou tomado por incertezas que me fazem questionar essas certezas todos os dias. A vida, os anos e as pessoas me ensinaram demais, me trouxeram muitas concepções que eu não conhecia e mesmo que não aceitava, mas, para além do que elas deixaram de fixo eu fui elaborando quem sou nas ausências que elas criaram e na tentativa diária de viver sem elas. Eu não sei quem serei daqui para frente, mas, tenho certeza que não serei quem sou hoje e isso me faz sorrir com imensa felicidade.

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