Emília

   Foi lindo te ver contando como sua mãe tinha ganhado aquela boneca pra você. Foi lindo vê-la dizer o amor e o cuidado que você tinha com ela, mas, foi substancialmente lindo ver o seu amor pela sua mãe, ver a admiração com que contava a história e a devoção que tinha pela ação que ela fizera. 

   Hoje o destino cuidou de me mostrar uma cena parecida. Uma pequena passou por mim carregando uma Emília maior que ela, bateu nas minhas pernas e com uma voz ainda meio atrapalhada pediu desculpas. Eu não pude me conter e ajoelhando perguntei o nome dela e da boneca.

- Meu nome é clara e nome dela é Emília, foi minha mãe quem me deu.

   A mãe dela já estava do meu lado e ficou admirando o diálogo da filha com o novo amigo que ela fizera naquele momento. Eu perguntei se ela gostava da Emília e ela disse que levava ela para todo lugar, pois, tinha medo de que se ela ficasse em casa sozinha, chorasse e ninguém iria escutar. Eu já estava completamente encantado por aquele pedacinho de gente e antes que eu pedisse, ela me deu Emília nos braços e perguntou meu nome. A gente ainda conversou por uns poucos segundos e ela pegando Emília em um braço se despediu e segurou na mão da mãe que também se despediu. Inevitável foi a lembrança da história inteira. 

   Ela foi saindo e eu fiquei olhando e pensando nos laços construídos e representados nas lembranças da infância. Talvez a Emília dela nem tenha uma história tão bonita como a sua. Talvez tenha sido comprada sem grande sacrifício. Talvez ela nem guarde a boneca durante tantos anos. Mas, o simples fato dela reconhecer a ligação entre ela e mãe através da boneca, que carrega pra cima e pra baixo, seja substancial para que meu dia tenha ficado melhor.

   Eu não saberia viver sem enxergar as purezas desses laços. Na verdade, o mundo seria muito difícil sem que eles existissem. Talvez as Emílias que existem pelo mundo sejam as formas materiais de reconhecer o amor e o amor seja desenhado não nas palavras desse blog, mas, nas crianças que carregam suas Emílias por ai.