"Eu não me permitiria novamente". É meio estranho escutar essa frase, ela parece não encaixar o dizer com o querer e fica sempre a noção de que não é a gente, mas sim, o que construímos da gente. Não é fácil voltar atrás e dizer: poderia ter sido assim! Dá uma sensação pesada de culpa e por medo de revê-la a gente "não se permite".
Não é uma crítica a quem não se permitiu ou quem não vai se permitir, é somente uma reflexão das escolhas que fazemos e daquilo que não escolhemos. Talvez quem não se permite esteja certa, talvez deixar pra lá e prosseguir seja fundamental, mas, fica sempre essa pontinha de vontade de saber: E se a gente se permitir?
Algumas almas são inquietas e as dúvidas do que poderia ser são sempre as piores possibilidades. Deve ser por isso que muita gente quebra a cara feio quando se permite e mesmo assim continua achando que o melhor era ir, viver, sem pensar nos mas e nos embora.
Talvez essas almas, embaladas pela pressa de viver do Belchior, não estejam prontas para viver no mundo das prisões psicológicas. Talvez elas nem tenham muita noção do que fazem ou falam, mas no fim, elas vivem e os desarranjos criados pela ausência das permissões são os preços que a vida cobra com juros e correções.
Se permitir é perceber como tudo é lá fora, abrindo aquela janela que quase sempre a gente mantém trancada, mas, com uma vontade danada de abrir. Essa dura disputa entre a continuidade do sonho e a meia certeza de que não vale a pena, quase sempre é uma das coisas que lá na frente a gente queria ter derrubado.
É, eu resolvi escancarar essa janela, deixei aquele medo de falar lá atrás, no tempo que eu também tinha medo de escutar alguma frase que faria minha vida mudar. Hoje, eu só quero que as frases ditas tenham o poder de tirar as pessoas das prisões, de libertar as vozes presas nas gargantas e que o "se permitir" seja mais que uma possibilidade de ficar, seja sim, a janela que faça a gente ver tudo lá fora.
Inspiração nos textos lidos e na música Sophia de Esteban Tavares
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