Certo dia, um pai dedicado e
fraterno colocava seu filho para dormir quando de repente o pequeno faz uma
indagação intrigante:
- Pai, o que é a verdade?
A reação do pai foi ao mesmo
tempo risonha e surpresa. Risonha porque a todo pai é comum a felicidade de ver
seu filho como sujeito curioso e interessado do mundo. O menino curioso nos
primeiros anos de vida em geral se transformará em um homem sábio e perspicaz.
No entanto, a surpresa foi o principal sentimento do pai em relação à pergunta
do filho. Como um garoto tão pequeno conseguia chegar a tal nível de reflexão?
Por um momento foi tentado a
achar que exagerara no teor da pergunta feita pelo menino, ora ele pode somente
querer saber a diferença entre verdade e mentira, decerto não abstraiu o
conceito concreto das duas palavras e por ouvir falar constantemente que fulano
mente ou sicrano fala a verdade ficou curioso. Pensou e respondeu baixinho
- Deve ser isso
Quando se preparava para
responder a pergunta de seu filho, o garoto o interrompe e faz nova indagação:
- Pai, a verdade pode não ser
verdade?
Nesse momento o homem ficou
perplexo, toda a construção que fizera a pouco sobre a capacidade de reflexão da
criança é destroçada e ele começa a perceber que se encontra defronte ao
primeiro momento filosófico de seu filho.
- Como assim filho?
- Ah pai, hoje a tia disse uma
coisa que eu não consegui entender. Ela disse que todos nós quando nascemos,
somos bons, nenhum bebê nasce ruim, nenhum bebê sabe bater e nem sabe mentir, a
gente só conhece a verdade.
O pai olhava admirado! As retinas
do sujeito lembravam inevitavelmente o momento do parto daquele garoto, de fato
ele achava que está vendo um novo nascimento do menino, mas dessa vez o parto
era intelectual. Contudo, ele queria ver até onde o garoto prosseguia e atento
escutava sem titubear.
- Daí pai, eu perguntei a tia quem ensina os
bebês a serem ruins quando eles crescem. Quem é essa pessoa má que não deixa
que todos os bebês continuem bons até morrer. A tia disse que não existe uma só
pessoa que ensina, mas um monte de pessoas que a gente chama sociedade. Mas uma
vez eu fiquei sem entender e perguntei a tia quem era a sociedade. A tia disse
que eram todos os homens juntos e eu mais uma vez não entendi.
- O que filho? O que é sociedade?
- Não, isso até que eu entendi.
- E o que você não entendeu?
- Como pode a sociedade ensinar
os bebês a serem ruins se a sociedade é os próprios bebês quando crescem? Todos
os bebês não são bons?
O pai estava pasmem! Seu filho
fazia uma reflexão filosófica que ele só fizera na faculdade. A leitura dele
era uma versão infantil da teoria de Rousseau. Era muito para ele, o pai tinha
certeza de que aquela não era a hora para tais pensamentos, no entanto, queria
saber qual a solução que ele daria ao problema e instigou o menino a falar
mais.
- Mas filho, o que isso tem haver
com a verdade?
- Tudo papai! Se a gente só
conhece a verdade quando é bebê e a sociedade é quem ensina a gente a ser ruim
é porque alguma verdade não é verdade mesmo, deve ser uma verdade com defeito!
O pai sorriu e abraçou seu filho
carinhosamente. Pensou em explicar ao filho as razões de todos os problemas
sociais da humanidade tudo o que aprendeu em anos de estudo, mas achou que ele
não entenderia. De fato isso não seria possível, era um menino muito pequeno,
apesar de muito curioso, era muito jovem, os anos e o estudo se encarregariam
desse papel.
Depois de todo aquele diálogo o
homem começa a cobrir seu filho enquanto responde as indagações com uma
história fantástica. Ele conta como é a vida em um mundo onde só existe a
verdade e outro onde não existe a verdade e todos os problemas que isso poderia
causar. No final ele diz que papai do céu como não conseguia resolver os
problemas dos dois mundos resolveu criar um mundo onde existiam coisas além da
verdade.
Ao final o garoto já dormia. O
pai na verdade gostou que ele não tivesse ouvido o final, não estava seguro na
história. Beijou seu filho e saiu. Apesar de saber que não podia responder a
questão de seu filho sentia-se feliz e pensava orgulhoso:
- Quem sabe um dia ele consegue
me responder.
Muito bom e interessante! Realmente á verdades que não são verdadeiras?!
ResponderExcluirCrônica muito boa. Esse tema é um dilema para muitos. O que seria mesmo a verdade? Pergunta de difícil, talvez impossível resposta!
ResponderExcluirThomas Blackstone!