terça-feira, 22 de maio de 2012

O mundo além da verdade



Certo dia, um pai dedicado e fraterno colocava seu filho para dormir quando de repente o pequeno faz uma indagação intrigante:
- Pai, o que é a verdade?
A reação do pai foi ao mesmo tempo risonha e surpresa. Risonha porque a todo pai é comum a felicidade de ver seu filho como sujeito curioso e interessado do mundo. O menino curioso nos primeiros anos de vida em geral se transformará em um homem sábio e perspicaz. No entanto, a surpresa foi o principal sentimento do pai em relação à pergunta do filho. Como um garoto tão pequeno conseguia chegar a tal nível de reflexão?
Por um momento foi tentado a achar que exagerara no teor da pergunta feita pelo menino, ora ele pode somente querer saber a diferença entre verdade e mentira, decerto não abstraiu o conceito concreto das duas palavras e por ouvir falar constantemente que fulano mente ou sicrano fala a verdade ficou curioso. Pensou e respondeu baixinho
- Deve ser isso
Quando se preparava para responder a pergunta de seu filho, o garoto o interrompe e faz nova indagação:
- Pai, a verdade pode não ser verdade?
Nesse momento o homem ficou perplexo, toda a construção que fizera a pouco sobre a capacidade de reflexão da criança é destroçada e ele começa a perceber que se encontra defronte ao primeiro momento filosófico de seu filho.
- Como assim filho?
- Ah pai, hoje a tia disse uma coisa que eu não consegui entender. Ela disse que todos nós quando nascemos, somos bons, nenhum bebê nasce ruim, nenhum bebê sabe bater e nem sabe mentir, a gente só conhece a verdade.
O pai olhava admirado! As retinas do sujeito lembravam inevitavelmente o momento do parto daquele garoto, de fato ele achava que está vendo um novo nascimento do menino, mas dessa vez o parto era intelectual. Contudo, ele queria ver até onde o garoto prosseguia e atento escutava sem titubear.
 - Daí pai, eu perguntei a tia quem ensina os bebês a serem ruins quando eles crescem. Quem é essa pessoa má que não deixa que todos os bebês continuem bons até morrer. A tia disse que não existe uma só pessoa que ensina, mas um monte de pessoas que a gente chama sociedade. Mas uma vez eu fiquei sem entender e perguntei a tia quem era a sociedade. A tia disse que eram todos os homens juntos e eu mais uma vez não entendi.
- O que filho? O que é sociedade?
- Não, isso até que eu entendi.
- E o que você não entendeu?
- Como pode a sociedade ensinar os bebês a serem ruins se a sociedade é os próprios bebês quando crescem? Todos os bebês não são bons?
O pai estava pasmem! Seu filho fazia uma reflexão filosófica que ele só fizera na faculdade. A leitura dele era uma versão infantil da teoria de Rousseau. Era muito para ele, o pai tinha certeza de que aquela não era a hora para tais pensamentos, no entanto, queria saber qual a solução que ele daria ao problema e instigou o menino a falar mais.
- Mas filho, o que isso tem haver com a verdade?
- Tudo papai! Se a gente só conhece a verdade quando é bebê e a sociedade é quem ensina a gente a ser ruim é porque alguma verdade não é verdade mesmo, deve ser uma verdade com defeito!
O pai sorriu e abraçou seu filho carinhosamente. Pensou em explicar ao filho as razões de todos os problemas sociais da humanidade tudo o que aprendeu em anos de estudo, mas achou que ele não entenderia. De fato isso não seria possível, era um menino muito pequeno, apesar de muito curioso, era muito jovem, os anos e o estudo se encarregariam desse papel.
Depois de todo aquele diálogo o homem começa a cobrir seu filho enquanto responde as indagações com uma história fantástica. Ele conta como é a vida em um mundo onde só existe a verdade e outro onde não existe a verdade e todos os problemas que isso poderia causar. No final ele diz que papai do céu como não conseguia resolver os problemas dos dois mundos resolveu criar um mundo onde existiam coisas além da verdade.
Ao final o garoto já dormia. O pai na verdade gostou que ele não tivesse ouvido o final, não estava seguro na história. Beijou seu filho e saiu. Apesar de saber que não podia responder a questão de seu filho sentia-se feliz e pensava orgulhoso:
- Quem sabe um dia ele consegue me responder.

2 comentários:

  1. Muito bom e interessante! Realmente á verdades que não são verdadeiras?!

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  2. Crônica muito boa. Esse tema é um dilema para muitos. O que seria mesmo a verdade? Pergunta de difícil, talvez impossível resposta!


    Thomas Blackstone!

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