Lembro bem do dia em que entrei
no curso de Geografia. Era um menino! Contava por volta de 18 anos, meio
gordinho, usava óculos e tinha uma curiosidade imensa em saber a razão de tudo.
Talvez esse tenha sido o motivo
do ingresso na Geografia. Havia me apaixonado pela ciência ainda no Ensino
Médio, achara de fato um conhecimento vibrante, jovem e infinito. A ciência da
Terra, aquela que ligava o homem a natureza, conhecia a profundeza da Terra e o
meio espacial, a pobreza da população e a riqueza das empresas transnacionais,
enfim, de um tudo que havia na Terra essa jovem ciência metia o seu bedelho.
No entanto, algo me intrigava.
Por que as pessoas tinham um visão tão diferente da minha em relação a
Geografia? Qual a razão de uma ciência tão dinâmica ser confundida com um
manual de informações que você abre busca uma informação e esquece com o tempo?
Isso de fato me perturbava e durante todo o meu curso procurei em livros e
artigos acadêmicos essa difícil resposta.
Para minha tristeza a resposta
não vinha. Passei longos períodos procurando em autores acadêmicos sem
encontrar pistas concretas. As discussões da pedagogia me desequilibravam e por
vezes pensei que a minha paixão de final de adolescência de fato não era tão
interessante como eu a imaginava e que se perderia com o tempo.
Depois de longo tempo e muitas
leituras comecei a olhar a minha volta, as coisas pareciam está diferente de
anos atrás. As ruas eram mais belas os rios mais fascinantes, as montanhas
desafiadoras e a pobreza mais triste.
Uma cortina havia sido tirada da
janela a frente dos meus olhos e eu comecei a enxergar o mundo. A Geografia
apresentou-se de forma clara em minhas retinas e eu pude perceber o porquê da
visão estática criada ao longo dos anos em relação a ciência. Anos a fio esse
conhecimento maravilhoso foi coberto por um pano escuro que impedia as pessoas
de viverem a Geografia. Tudo parecia muito distante e a decoração de números e
nomes parecia ser a única saída para aprender.
Ninguém enxergava a geografia
como parte de sua vida, como explicação para suas aflições e resposta a seus
questionamentos. Faltavam cores para pintar paisagens, cheiros para viajar
sobre as florestas e calor para entrar em vulcões e decifrar a Terra. Enfim, falta vida a essa ciência tão dinâmica.
Comecei a entender também que
falta paixão dos professores em ensinar Geografia, faltava viver a ciência,
cantá-la em prosa e verso, mostra seu conhecimento na prática, fugir dos
manuais didáticos e construir conhecimento autônomo.
Faltava fazer as pessoas se
localizarem no espaço, entenderem a natureza, posicionarem-se frente a política
externa das nações, discutirem a expansão de suas cidades, protestassem contra
a poluição de seus rios, discutissem meios de transporte coletivo, pensassem no
planejamento familiar, cuidassem melhor dos seus solos, escolhessem a melhor roupa para o clima do
dia, chocarem-se com a pobreza e
festejassem com o aumento da renda per capita. Enfim, faltava ensinar geografia
de verdade.
A partir daí tudo ficou claro e meu coração acalmou-se. Minha antiga
paixão de adolescência tinha se transformado em um amor platônico e comecei a
fazer minha parte para ascender a chama de jovialidade da Geografia que havia
sido escondida em uma caverna calcária fria, cheia de estalactites e estalagmites que dificultava a entrada das
pessoas.
Hoje,
já sem os óculos e com uns quilos a menos do que aquele menino de 18 anos que
entrou na faculdade, continuo um curioso e determinado estudante. Contudo,
aprendi que para além dos livros e artigos científicos existe um mundo repleto
de felicidades e aflições a serem vividas e descritas nas cores de uma bela
ciência chamada Geografia.
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