sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Por que Geógrafo?



                Lembro bem do dia em que entrei no curso de Geografia. Era um menino! Contava por volta de 18 anos, meio gordinho, usava óculos e tinha uma curiosidade imensa em saber a razão de tudo.
                Talvez esse tenha sido o motivo do ingresso na Geografia. Havia me apaixonado pela ciência ainda no Ensino Médio, achara de fato um conhecimento vibrante, jovem e infinito. A ciência da Terra, aquela que ligava o homem a natureza, conhecia a profundeza da Terra e o meio espacial, a pobreza da população e a riqueza das empresas transnacionais, enfim, de um tudo que havia na Terra essa jovem ciência metia o seu bedelho.
                No entanto, algo me intrigava. Por que as pessoas tinham um visão tão diferente da minha em relação a Geografia? Qual a razão de uma ciência tão dinâmica ser confundida com um manual de informações que você abre busca uma informação e esquece com o tempo? Isso de fato me perturbava e durante todo o meu curso procurei em livros e artigos acadêmicos essa difícil resposta.
                Para minha tristeza a resposta não vinha. Passei longos períodos procurando em autores acadêmicos sem encontrar pistas concretas. As discussões da pedagogia me desequilibravam e por vezes pensei que a minha paixão de final de adolescência de fato não era tão interessante como eu a imaginava e que se perderia com o tempo.
                Depois de longo tempo e muitas leituras comecei a olhar a minha volta, as coisas pareciam está diferente de anos atrás. As ruas eram mais belas os rios mais fascinantes, as montanhas desafiadoras e a pobreza mais triste.
                Uma cortina havia sido tirada da janela a frente dos meus olhos e eu comecei a enxergar o mundo. A Geografia apresentou-se de forma clara em minhas retinas e eu pude perceber o porquê da visão estática criada ao longo dos anos em relação a ciência. Anos a fio esse conhecimento maravilhoso foi coberto por um pano escuro que impedia as pessoas de viverem a Geografia. Tudo parecia muito distante e a decoração de números e nomes parecia ser a única saída para aprender.
                Ninguém enxergava a geografia como parte de sua vida, como explicação para suas aflições e resposta a seus questionamentos. Faltavam cores para pintar paisagens, cheiros para viajar sobre as florestas e calor para entrar em vulcões e decifrar a Terra. Enfim, falta vida a essa ciência tão dinâmica.
                Comecei a entender também que falta paixão dos professores em ensinar Geografia, faltava viver a ciência, cantá-la em prosa e verso, mostra seu conhecimento na prática, fugir dos manuais didáticos e construir conhecimento autônomo.
                Faltava fazer as pessoas se localizarem no espaço, entenderem a natureza, posicionarem-se frente a política externa das nações, discutirem a expansão de suas cidades, protestassem contra a poluição de seus rios, discutissem meios de transporte coletivo, pensassem no planejamento familiar, cuidassem melhor dos seus solos,  escolhessem a melhor roupa para o clima do dia,  chocarem-se com a pobreza e festejassem com o aumento da renda per capita. Enfim, faltava ensinar geografia de verdade.
A partir daí tudo ficou claro e meu coração acalmou-se. Minha antiga paixão de adolescência tinha se transformado em um amor platônico e comecei a fazer minha parte para ascender a chama de jovialidade da Geografia que havia sido escondida em uma caverna calcária fria, cheia de estalactites e estalagmites que dificultava a entrada das pessoas.
                Hoje, já sem os óculos e com uns quilos a menos do que aquele menino de 18 anos que entrou na faculdade, continuo um curioso e determinado estudante. Contudo, aprendi que para além dos livros e artigos científicos existe um mundo repleto de felicidades e aflições a serem vividas e descritas nas cores de uma bela ciência chamada Geografia.  

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