Ele e ela, somente

   Se aproximava o final da semana, ele estava cheio de obrigações: trabalho, estudo para concurso, uma faculdade que resolvera iniciar mesmo sem saber a razão, mas, que já andava pela metade do caminho e agora não conseguia coragem para desistir. Ela também estava em situação semelhante: um concurso que vinha tirando sua paz, alguns problemas de saúde e as muitas incertezas que a vida estava mostrando para ela naquele momento. Ela pega o celular e manda uma mensagem:

- Vem dormir aqui! A gente assiste série e fica juntinho.

   Ele estava bastante preocupado! Mesmo tendo conseguido bater todas as obrigações diárias, parecia que se ele fosse dispor daquele momento estaria sendo displicente com seus afazeres, afinal, alguém iria estudar ate meia noite e ele ficaria para trás. Ele achava que esse era o seu ano, pensava em morar em uma capital com praia, um apartamento na beira do mar, um trabalho com boa remuneração e expediente por escala, queria criar um filho junto com ela, participando diariamente da educação e cuidado da criança.

- Eu tenho que estudar, no sábado eu irei.

   Ela insistiu, fez um charme tão característico dela, com uma carinha do aplicativo de mensagem que relembrava um choro preso. Ele mais uma vez não resistiu, nunca resistiu, lembrou daquela risada maravilhosa que ela tem e daquele abraço meio doido que puxava ele para o quarto e trancava a porta.

- Pronto, depois das 22h eu irei.

- 22h não, mais cedo, estou com saudade.

- Eu também, mas preciso estudar, se eu terminar mais cedo....

- Termine logo! Estou morrendo de saudade.

   Ele correu para terminar mais cedo. A concentração já não estava tão forte e depois de finalizar aquele assunto ele tomou banho rapidamente e foi correndo. Chegou e escutou ela ouvindo a mesma música de sempre, em alto volume como sempre. Bateu na porta, ela abriu e puxou ele rapidamente, abraçou e fechou a porta. Sentaram na cama e ela colocou uma série que ele, como sempre, não fazia a menor noção do que tratava, mas que assistia junto dela e dava palpites sem lógica.

   Eles se abraçaram e puxaram o lençol, ele meio egoísta, sempre puxava mais para o seu lado e dizia:

- Deita no meu peito, o lençol é pequeno e você aqui, dá para cobrir nós dois,

   A série terminou eles riram juntos e acabaram dormindo. As 6 da manhã ele acordou, era sábado, mas seu costume de acordar cedo nunca se desfez. Rapidamente ele queria ir embora, precisava voltar as obrigações. Ela insistia para que ele ficasse, mas suas concepções eram muito fortes e ele prometia retornar a noite. Ele não percebia mas, ela queria poder acordar com ele e tomar o café como eles faziam quando ela estava na casa dele. Talvez nesse momento ele pecou.

   Pequenas horas, fazem muita diferença. O tempo que ele perdeu naquele sábado, olhando o celular poderia ter compensado aquela hora de acordar, que para ela era tão importante, ele colocou na rotina algo que não suporta grades, o amor. Mesmo assim ela entendeu, ela sempre entendia, o beijou e disse que estava com saudade, rezando para que a noite chegasse logo. Ele perguntou se ela queria sair, ainda com sono, ela respondeu:

- Pouco importa, quero ficar com você, somente!