Eu sempre fui o padre dos meus amigos quando o caso é amor, eles sempre vêm a mim e relatam suas relações, em especial os términos. E entre as coleções de histórias que acumulo posso reunir palavras repetidas como: não era pra ser; somos muito diferentes; eu me esforcei e ela não; não sei o que houve, mas eu não estava na relação.
Essas são as razões mais comuns nos términos. Parece que nós somos ensinados desde cedo que o amor tem de ser certeiro, aquela flechada no calcanhar de Aquiles, que não corre o risco de erro. Parece que ao construir o amor, nós desconsideramos o caminho que cada um, como ser humano, vai construindo ao logo da vida.
Para tudo na vida podemos viver experiências. Se você erra certa vez no trabalho, você leva aquela história para sempre como aprendizado, conta aos mais jovens e no fim da contas você se orgulha de ter errado, foi bom, você aprendeu e isso é produto da maturidade. Mas, para o amor as coisas são diversas. Nós temos a mania de esconder nossas antigas histórias de amor lá no fundo do armário, naquela caixinha com chave que a gente também escondeu na caixa de sapato do guarda-roupa. É proibido falar de amor que não deu certo, é quase vergonhoso.
A culpa do amor que não deu certo é sempre muito pesada. Ninguém quer carregar ela, ninguém traz ela como sinônimo de experiência, você cria uma realidade mental, em geral culpabilizando o outro e quando seu carinho pela pessoa impede que você faça isso, você se esforça o máximo para esquecer, apaga telefone, joga as fotos, para de andar nos lugares e vai memorizando aquelas palavras lá de cima, dia após dia, até que em certo momento elas ganham força de verdade e tudo parece que se ajeitou.
E aí vem a reflexão: o que seria da vida sem histórias de amor fracassadas? O que seria de nós se todos os "finais felizes" fossem "juntos para sempre"? De certo seriamos incompletos e incompletos, jamais podemos ser felizes. A vida tem me ensinado muito lentamente isso. Aquele amigo que me contou seu primeiro término, que tomou aquele porre, sofreu pra caramba pela ex namorada, se deu conta depois que nesse mesmo namoro era egoísta, condicionava a vida do casal a vida dele e anulava ela como sujeito. Aquele outro que pôs fim ao noivado de três anos, com todos os móveis comprados, percebeu e aceitou pouco depois, que ela não o amava, mas que foi fundamental no seu desenvolvimento como pessoa.
E hoje, já beirando os 30 anos, eu percebo o quanto a vida nos ensina a cada dia. A maturidade para o amor é processo constante, sem fórmula, sem tutorial no youtube e que ocorre a cada dia. Algumas vezes encontramos ela dentro da própria relação, em outros casos encontramos suas bases nas histórias vividas e que teimamos em negar. Portanto, não podemos ter medo de viver. Devemos acima de tudo nos permitir, devemos nos constituir como sujeitos todo dia, em todos os sim, todos os nãos, todos os sorrisos e todos os momentos em que não conseguimos. Amar é viver e viver é uma estrada com apenas uma placa, a que indica a partida.
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