Das correspondências e da caixa de correio, um encontro a distância.
Acordou no sábado e meio que intuitivamente pegou a caneta e o caderno. As palavras saíram como no automático, de certo, no ápice do pensamento romântico, teve certeza que partiram do coração.
- Ora pois, dizem os biólogos, e coração lá pensa? Nem há de se importar com aquele tipo de fala, ele tem mesmo certeza de que elas vêm do coração.
E fez isso por vários dias. Escrevia a carta ao acordar e a metade do dia exercia o papel de carteiro indo postar suas declarações na caixa de correio. Doce era a maneira como ele fazia isso, meio aperriado e desconcertado, é verdade, mas, sempre que a carta escorregava sentia uma alegria quase infantil, daqueles meninos que acabam de realizar uma travessura bem sucedida.
As cartas já não eram suficientes para expressar tudo que ele tinha a dizer, foi paulatinamente usando outros meios e outros e outros, de tal forma que já passavam de muitas as horas que dispensava para tirar do peito todas as sensações que ali faziam uma verdade súcia. E era grande a inquietude, sempre acalmada pela canção de ninar chamada escrever, compreendeu então a frase: "Talvez seja algo sobre terapia intensiva de autodescobrimento"
As cartas têm um problema, principalmente a nós, passantes nessa vida do século XXI, elas tardam resposta. Mas, por certo se fez que, sorte tinham os amantes do século XIX, que, sem outros meios, nutriam a esperança da resposta em meio a uma semana cheia, aquela alegria de chegar em casa e ver que na caixa do correio repousa uma resposta, uma troca, que vai muito além de qualquer toque ou carícia quente do final da noite.
E as respostas vieram, algumas vezes sutis, outras ríspidas por assim. Talvez ele tenha sido mal influenciado pelos amores românticos das fitas do rádio da mãe. Talvez os livros que despertou para ler em um final de juventude arrolada por jogos de futebol e sonhos de motos e viagens tenham o enganado. Talvez aquelas histórias de casais que superam um mar de dificuldades e se encontram em um fim de tarde "sentados a beira do caminho" nem existam. Mas, o simples fato de ir até lá e expor por meio das palavras tudo que sentia aproximava ele um pouquinho desse mundo que ele encontrou nos folhetins das novelas.
E por certo, alguém deve está se perguntando a razão de tantas declarações não serem expressas no encontro, deixou para as ausências toda essa vontade de dizer importância, qual a razão de tamanho descuido? Bem sabemos a dificuldade da resposta, talvez ela esteja encaixada no meio de alguma cena dos livros que a gente não conseguiu perceber, mas que observa se repetir na vida, a transformando em arte. É talvez seja arte viver e muito mais arte amar.
Mas, no fim das contas, vale mesmo o fato do cuidado e da preocupação. Vale saber que alguém se permitiu a ler tudo que cuidadosamente foi escrito e vale também ler o que a pessoa escreveu, isso é carinho e carinho não se fala da boca pra fora. Vale mesmo continuar acreditando em todos os clichês que os livros e as poesias nos apresentaram, vale continuar achando que a vida vai repetir a arte e que a gente vai viver um dia o sorriso que a gente deu quando terminou de ler aquele livro e sim vale mesmo saber que você cultivou amor em alguém. E Por que? Seria muito difícil e cruel um mundo sem esses devaneios.
Não precisa ser pela caixa do correio, nem chegar em forma de visita inesperada... Longe de precisar de holofotes ou de juras desesperadas de permanência. Basta um comentário assim, despretensioso, de quem só quer avisar que veio. Acho que se a minha meta era fazer você voltar a escrever, ela foi cumprida. Boa sorte nos próximos amores.
ResponderExcluirMuitas são as escutas sobre amores clichês. Clichê é a falta desse amor, clichê é durante anos você deixar na segunda opção, quem sempre te quis como primeira!
ResponderExcluirO tempo vai passando e percebemos quem realmente se faz presente.
O amor sempre vai ser clichê! E graças a Deus que é assim...😊😊😊
ResponderExcluirE a desculpa para não vivê-lo também é clichê!
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